


Hospitalar 2025: presidente da UNIDAS debate prestadores e operadoras em Papo da Saúde do SindHosp
27 de maio de 2025UNIDAS defende novo modelo de remuneração orientado por valor e segurança do paciente
O III Simpósio da SOBRACAM – Sociedade Brasileira de Cirurgia Ambulatorial e Hospital Dia, realizado no dia 20 de maio, durante a Hospitalar 2025, em São Paulo, reuniu especialistas de diversas áreas da saúde suplementar e pública para discutir os rumos e desafios da cirurgia ambulatorial no Brasil. Sob o tema “Uma evolução estratégica para a saúde no Brasil”, o encontro tratou de temas centrais como segurança assistencial, regulação sanitária, sustentabilidade financeira e modelos de pagamento.
Representando a UNIDAS – Autogestão em Saúde, o presidente Mário Jorge participou como debatedor da mesa composta por Fábio Soares, ex-presidente e atual diretor de relações com o setor público da SOBRACAM; Luiz Sérgio Santana, CEO da Opty Hospitais Oftalmológicos; Gedson Nascimento, diretor da Sociedade Brasileira de Anestesiologia e membro da Câmara Técnica de Anestesiologia do CFM, e o atual presidente da SOBRACAM, Fabrício Galvão, que conduziu o debate.
As discussões partiram de um diagnóstico compartilhado: a cirurgia ambulatorial é uma solução assistencial já consolidada internacionalmente, mas ainda esbarra, no Brasil, em entraves regulatórios, lacunas legais e uma cultura médica e institucional resistente à mudança. Casos recorrentes de procedimentos realizados em ambientes clínicos desprovidos de licenças sanitárias adequadas foram apontados como um risco à segurança do paciente e à integridade dos profissionais envolvidos.
“Estamos vendo práticas que, embora comuns, são totalmente irregulares e sem respaldo normativo”, alertou Gedson Nascimento, ao reforçar a posição da anestesiologia diante do crescimento não controlado desses procedimentos fora de hospitais dia. Para ele, o foco deve ser a construção de uma regulamentação segura e clara, com o objetivo de preservar a vida e evitar prejuízos clínicos e jurídicos.
Em sua intervenção, Mário Jorge defendeu uma abordagem sistêmica e propositiva. “Superadas as barreiras estruturais e garantida a segurança do paciente, o debate precisa avançar para o modelo de financiamento. Hoje, o sistema premia a produção, não o resultado clínico. É preciso criar mecanismos que incentivem a entrega de saúde com qualidade e propósito”, afirmou.
Dados apresentados durante o simpósio apontaram que, até 2028, cerca de 85% das cirurgias nos Estados Unidos devem ocorrer em regime ambulatorial, com ganhos expressivos em eficiência e redução de custos. “No Brasil, ainda enfrentamos um sistema pressionado por desperdícios, muitos deles de natureza processual. O maior entrave, no entanto, é cultural. Como disse um dos grandes nomes da estratégia, a cultura come a estratégia no café da manhã”, provocou o presidente da UNIDAS.
A fala foi endossada por Luiz Sérgio Santana, que destacou o papel da oftalmologia como exemplo escalável e viável do modelo ambulatorial. “Escalabilidade é sinônimo de sustentabilidade. Se não formos capazes de replicar essas soluções com eficiência, o avanço ficará restrito a nichos.”
Fábio Soares lembrou que a resistência ainda está enraizada na percepção equivocada de que ambientes ambulatoriais entregam menos qualidade que a alta complexidade. “Essa mudança precisa acontecer não só nos fluxos operacionais, mas também na mente do profissional e na expectativa do paciente. O cuidado seguro e resolutivo não depende do tempo de permanência, mas da estrutura e da conduta adotada.”
Mário Jorge reforçou que a saúde suplementar precisa resgatar a visão de longo prazo. “Desde a abertura de capital estrangeiro, o setor se acostumou ao curto-prazismo dos trimestres financeiros. Isso compromete a capacidade de construir parcerias duradouras e de investir em modelos inovadores, como o ambulatorial.”
Ao encerrar sua participação, o presidente da UNIDAS apresentou dois vetores estratégicos para impulsionar essa transformação: experiências bem-sucedidas que sirvam de referência e o fortalecimento da cultura de valor entre operadoras, prestadores e pacientes. “Precisamos deixar claro que o ambulatorial não é o ‘básico’. É, muitas vezes, o melhor. E essa mudança só será possível com confiança, evidência e compromisso coletivo.”